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quarta-feira, 26 de outubro de 2005

Um domingo de votação

Imagem: Buraco da Fechadura
(Adaptado)

A manhã estava radiante. Um sol de iluminar as mentes mais obscuras. Não sabia que dia de Referendo fosse tão bonito assim. Mas sabia que tinha que votar. Sua seção eleitoral ficava a mais de dois quilômetros de casa. Decidiu ir a pé. Assim poderia sentir melhor a cidade em que vivia e, depois de tanto tempo, percorrer mais atentamente os olhos sobre a rua em que morou quando criança, onde dava até para jogar bola, de tão calma que era. Naquela época, nem calçamento tinha. Hoje asfaltada e com um trânsito medonho. Então disse para si mesmo: "Vou pegar meus óculos de sol e calçar meu tênis de chover, chover gols nas quadras de futsal haha". Rir e votar eram coisas que ele dizia saber fazer sozinho, obrigado. Votaria no Sim, sim, pela proibição do comércio de armas. Sabia que o Não iria ganhar. Não porque as pesquisas indicassem. Ele tinha uma explicação bem natureba para isso: todo animal, qualquer um, mesmo os que se equilibra em dois pés, sempre procura mostrar valentia quando se sente acuado, desesperado.

E saiu para votar. A pé, prestando atenção nas casas que passavam por ele. Por ele e pelo sol, se acreditarmos no que ele falou, ao fazer um sinal para o céu com o dedo em forma de gancho, por trás de suas costas, quando saía de casa, chamando o astro-rei: "vem comigo!".

Fez uma parada em frente à casa onde morou até os 14 anos. Estava bem modificada. Lembrou-se dos irmãos, da mãe, do terraço... ...do nó na garganta e continou a caminhada. Mais à frente avistou a entrada do beco por onde cortava caminho para chegar mais rápido à Escola onde estuda e escrevia tudo quanto era algarismo e onde agora só iria digitar o número 2. Pensou em fazer aquele mesmo trajeto para reviver os momentos de uma travessia feita em meio a crianças pobres, cachorros magros e mulheres gordas. Mas a presença de um morador sem camisa numa varanda de um pequeno e mal cuidado prédio na entrada do beco, como que vigiando o acesso, mais o receio de ser abordado como invasor de território fizeram-no continuar a caminhada pelo caminho mais longo, porém mais largo e mais certo. Passou então em frente à casa onde morava Ana, a garota por quem se apaixonou e nunca beijou. "Ela nunca me kiss haha". O nó da garganta já havia se desfeito por completo.

Em sua caminhada rumo à urna eletrônica encontrou antigos companheiros de pelada. Todos pobres. Todos negros. Todos amigos, todos eternos. Ele, branquelo, destoava da maioria de pele escura nas peladas diárias batidas à tarde, num campinho próximo dali. Ficou feliz porque um deles, sem que lhe perguntar, disse que votaria no Sim. Aos demais também não perguntou, pois achava que era uma intromissão desrespeitosa com aquelas pessoas tão simples e sinceras. Sentiu-se muito satisfeito por ter tomado a decisão de ter ido votar a pé e ter se encontrado com aquelas pessoas.

Na volta, olhou para a outra saída do beco por onde evitou passar na vinda e por onde entrava quando voltava da escola (depois que soube onde Ana morava, não passava mais por ali, mas em frente da casa dela, a não ser quando estava mesmo muito atrasado). Na entrada, um grupo de rapazes conversava. Continuava com a mesma vontade de passar por lá, mas os receios também continuavam. Entrou assim mesmo. "Exerci o papel de cidadão brasileiro, não exerci? E, que eu saiba, esse beco é uma parte do solo da Pátria Amada, não? Então, tenho o direito de passar por aqui, oras!", dizia para si mesmo, sem medo de ser infeliz, pois, dentro de si, ria muito dessa frase.

Foi passando com naturalidade de um morador do beco, sem olhar para os lados, muito menos para trás. Sabia que, se desse muita bandeira, pensariam que estava perdido e poderia ter complicações. Mas aproveitou para sentir aquele espaço. Já não eram cd's que tocavam alto dentro das casas, mas DVD's. Banda Calypso e essas coisas. Suingue bom. Viu cartazes mal escritos anunciando serviços de manicure, venda de chupe-chupe, que grafavam xup-xup ...essas coisas. Sentiu toda a desigualdade social. Naquela hora e naquele feriado poderia estar bem longe dalí, em seu carro esporte, mas quis reviver os momentos quando passava por ali despreocupado, com a mochila de cadernos. Já estava formado num curso superior, ma tudo havia parado no tempo, desde sua última passagem, quando ainda fazia o 1º grau e agora se deparava com a continuidade das cenas que viu pela última vez: o garoto que iria chutar uma bola furada para o gol, agora chutava. Fora. Uma menininha conseguia finalmente atravessar o bracinho de uma boneca por um pedaço de sacola plástica que achou no lixo e fazia as vezes de roupinha. Um cachorro magrela roía ainda o mesmo osso e um garoto, depois de tantos anos, ainda não havia atendido os gritos de sua mãe para ir para casa.

Ficou pensando no fato de aqueles moradores votarem contra a proibição do comércio de armas, sem que jamais pudessem comprar uma arma, mesmo se quisessem. Uma arma com taxas de registro, porte, munição etc não sai por menos de R$ 3.000,00. Considerando que um dos principais motivos de se ter uma arma é o de proteger o patrimônio, os bens mais valiosos, aquela gente compraria uma arma para defender... a própria arma. E enquanto caminhava, ficou tentando entender como os pobres são levados a comprar e defender idéias que só aos próprios ricos interessam.

Finalmente chegou à saída do beco. A mente, confusa como sempre, o sol, brilhante como nunca.

Com o corpo suado, tirou a camisa e jogou-a sobre um dos ombros, deixando o outro para que o sol pousasse sua mão cálida. E foram abraçads até o portão de casa, quando se separaram. Ele se despediu do sol assim: "Valeu o calor da companhia, gente boa! A gente se vê à tarde na praia!".

E ainda brincou antes de entrar e beber um copo d'água gelada. "Pô! Tu dorme cedo, hein, cara! hahaha".

Rir era uma coisa que realmente ele sabia fazer sozinho.

Kali.
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quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Um livro e um quase fuzilamento

Acabei de ler Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Indico-o com a mesma recomendação que recebi antes de comprar e ler essa obra: "Kali, não passe por essa vida sem ler esse livro!"

"Tá. E daí, Kali?"

Daí que agora posso morrer em paz, oras píulas (é pra ler assim mesmo; é como o capixaba costuma pronunciar "oras, pílulas!".)

Então. Você encontra Cem Anos de Solidão nas melhores livrarias por cerca de R$40,00. Nas piores, se você encontrar, o preço é o mesmo :)

Hoje de manhã, saindo para comprar pão. No cruzamento, um comboio de caminhões do Exército Brasileiro (para quem não sabe, moro perto de um Batalhão de Infantaria e da Escola de Aprendizes Marinheiros do Espírito Santo). Não sei o que transportava esses caminhões, pois eram cargas fechadas. Mas muito bem escoltados, com soldados de fuzis e tudo. Deviam estar armados até os dentes, pois não sorriam. A propósito, enquanto eu passava, me olhavam com cara de poucos amigos, com certa hostilidade, eu diria. Estranhei, pois os soldados sempre passam animados por aquela rua, armados, amados ou não. Sair do quartel é como um passeio para eles, acredito. Mas hoje de manhã eles olhavam sérios pro meu lado, eu hein.

Só quando voltei da padaria é que percebi que estava com uma camisa da Argentina.

Se a humanidade conseguir evoluir um pouco mais do que evoluiu até agora, é claro que no futuro o nacionalismo desaparecerá para sempre da face da terra e os seres humanos formarão uma comunidade só, com todas as suas diferenças.

Kali.
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domingo, 16 de outubro de 2005

Comércio de armas: O significado do Não e a relação entre um revólver e a bomba atômica - pra fechar

Tá, tá bom. Só mais um post sobre o referendo. O último, prometo. Antes que eu leve um tiro do pessoal do Não.

Os mais importantes argumentos do NÃO se transformam em piadas quando confrontados com a realidade brasileira:

Eles acreditam sinceramente que os bandidos vão sair correndo se souberem que você está na posse de uma arma hahahaha. Eles não sabem, ou não querem saber, que armas e bandidos se atraem, que bandidos adoram assaltar empresas só para pegar a arma do vigia (que dirá de um cidadão "honesto" - falar nisso, onde é mesmo que se tira carteira de honestidade, como bem alertou Ana Paula Podrão?); fingem não acreditar que bandido vai reagir com muito mais violência se souber que você tem uma arma; que todo bandido quando ataca, o faz sempre com a hipótese de que a vítima esteja armada. E se você não acredita, experimente esboçar uma reação quando for assaltado. Não vai dar nem temopo de ver o buraco na testa no espelho.

Se os bandidos fossem tão burros quanto o pessoal do NÃO supõe que sejam, todo mundo deveria votar no SIM, pois bastava um adesivo "cuidado que eu tô armado!" para espantar a bandidagem hehe...

Eles dizem que impedir a comercialização de armas é cercear o direito do cidadão de se defender. Tá bom. Então o Estado também tem que dar ao cidadão o direito de avançar o sinal vermelho, pois tal proibição impede a liberdade de ir e vir, claro.

Bem, o NÃO deve ganhar. DISPARADO! E a conclusão que tiro desse previsível resultado é o que segue. Anotem aí os atrasados em História e Sociologia, em letras garrafais, que é pra não dizer "eu si esquici, professora!" na hora da prova:

A VITÓRIA DO NÃO NO REFERENDO POPULAR CONTRA A COMERCIALIZAÇÃO DE ARMAS E MUNIÇÕES REPRESENTA O TOTAL FRACASSO DO ESTADO BURGUÊS EM PROTEGER A VIDA DO CIDADÃO E GARANTIR SUA SEGURANÇA, FUNÇÃO PRIMORDIAL ASSUMIDA NO CONTRATO SOCIAL QUE LHE DEU ORIGEM, QUANDO OS CIDADÃOS ABRIRAM MÃO DO USO DAS ARMAS EM FAVOR DO USO DA FORÇA PELO ESTADO E DA PROTEÇÃO INDIVIDUAL EM FAVOR DA PROTEÇÃO DE TODOS. REPRESENTA O RECONHECIMENTO DO CIDADÃO BRASILEIRO DE TAL FRACASSO E, AO MESMO TEMPO, A FUGA PARA UMA SAÍDA INDIVIDUALISTA E DESESPERADA DIANTE DA VIOLÊNCIA QUE ASSOLA UM PAÍS MARCADO POR UM DOS MAIS INTENSOS E VERGONHOSOS SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO HUMANA DO PLANETA, QUE LEVOU A UM QUADRO DE MISÉRIA E APARTHEID SOCIAL SEM PRECEDENTES, AS VERDADEIRAS FONTE SDE TODA VIOLÊNCIA EXISTENTE HOJE NO SOLO BRASILEIRO, TÃO MANCHADO DE SANGUE.

Para finalizar, quero dizer que, por questão de lógica e coerência, o pessoal do NÃO deve também ser favorável ao direito de uma nação possuir armas nucleares, pois não faz sentido a preocupação com a defesa individual e isolada se o país também não puder se defender de um povo inimigo, pois as atrocidades que um marginal pode causar a uma família não é nada diante das atrocidades que um exécito inimigo possa fazer ao povo de um país invadido. E hoje, pela estágio armamentista do mundo e pela lógica capitalista, não se pode falar em defesa séria de uma nação contra outra sem o acesso de um país às armas nucleares. Os EUA possuem 12.070 bombas atômicas. 4 mil bastam para destruir o planeta três vezes. Tá bom pra você?

Bem, isso não está importando muito pra mim. O que me importa é que daqui a pouco estarei com meus amigos na Praia da Costa jogando futebol de areia. É a mais estreita relação que tenho com as armas. Meus chutes são verdadeiros tiros de canhão.

Bom domingo, gente boa.

Kali.
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sábado, 15 de outubro de 2005

Mais referendo

Em dúvida, amigo?

Pelo Sim, pelo Não, vote são.

São os sinceros votos do Blog Kálido.

Só porque hoje é sábado. Bom final de semana.

Kali.
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quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Um logotipo para a campanha do "NÃO"

Claro que esse referendo não vai mudar o quadro da violência no Brasil, cuja causa não está exatamente na posse das armas de fogo. Mas voto SIM por uma questão filosófica. Eu sou dos que acreditam nas flores vencendo o canhão, se é que me faço entender. Mas para mostrar que não tenho nada de pessoal contra os do "contra", bolei até uma logomarca para eles hahaha. Abraços kálidos.

Kali.
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terça-feira, 11 de outubro de 2005

Sob o fogo das armas - minha opinião

Esse post é grande. Mas fazer o quê? O assunto é importante.

Quanto ao referendo popular sobre a proibição do comércio de armas no Brasil, quero deixar claro que jamais serei a favor.

A favor de quem é contra, eu tô falando.

Então vou dar minha opinião e, no final, contar uma historinha que vou inventar daqui até lá. Espero que agrade. Antes, porém, um pequeno poema feito agora.

ENCONTRO NÃO MARCADO

Kali (em homenagem a todos os que votam SIM no referendo das armas).

Um homem passeava.
E na esquina de uma avenida
Encontrou perdida uma bala
E lhe perguntou, assim, espontâneo
(Seu nome era Afrânio):
- De onde você vem?

A bala então respondeu,
Assim, desinibida:
- Não sei de onde eu venho
  Mas sei para onde vou.

E num movimento instantâneo
Atravessou-lhe o crânio.


E agora, senhoras e senhores, as armas da minha opinião contra a opinião das armas. A análise é genérica. Em assim sendo, nada de pessoal contra os contra. Podem desarmar os espíritos, portanto, brava gente.

Então. Penso eu que por trás da idéia de uma pessoa se arvorar no direito de ter uma arma para se defender da violência reside o espírito individualista típico da nossa época capitalista. Um espírito egocêntrista incapaz de vislumbrar uma saída coletiva, social e eficaz contra a violência. Pensamento de um ser egoísta e autosuficiente o bastante para ser capaz de comprar uma arma com o suor de rosto reivindicando a capacidade de poder com ela também defender seu sangue, seus bens em meio a uma sociedade completamente sem rumo, de balas e esperanças perdidas. Não é à toa que o herói de nosso tempo seja o super-homem.

O individualismo a que cada cidadão foi jogado pela sociedade capitalista leva-o a acreditar que possui superpoderes, seja pela alucinação da miséria a que é submetido, seja pela autosuficência opulenta em que está metido.

Essa forma egocêntrica e limitada de olhar o mundo através das lentes míopes e embaçadas do individualismo é que faz o cidação da classe média querer a posse de uma arma e acreditar sinceramente que ela irá ajudá-lo a proteger a si, sua família e seu patrimônio da violência cotidiana que assola o país e que, há muito tempo, vem batendo à sua porta sem tocar a campainha. É o sagrado direito de defesa da vida e dos bens, como diz a propaganda dos "contra".

Tendo como farol de orientação o próprio umbigo, procura com os próprios meios conduzir com segurança seus bens materiais e humanos mais valiosos num frágil barco em meio à borrasca social, sem esboçar nenhum interesse em descobrir as origens e causas das ondas de vilência de que é vítima. Pior: muito menos procura lutar ou contribuir coletivamente para a solução do problema. Já não acredita na polícia. Menos por ela estar totalmente corrompida do que pelo desejo de ele mesmo contratar a sua própria segurança e que se lasque o resto.

Armar-se contra a violência pode significar uma atitude bastante nobre e louvável do ponto de vista individual, mas socialmente pode representar o aumento do desastre. "Mas, kali, a proibição do comércio de armas vai desarmar o honesto e armar o bandido, já que este não se utiliza do comércio legal para se armar!".

Por isso mesmo. O fim da comercialização de armas no país pode produzir dois importantes benefícios, além de outros. Primeiro, reduzir o fluxo de armas para os delinqüentes, pois boa parte dese arsenal vem do roubo das armas das pessoas comuns e não do comércio ilegal; segundo, ajuda a canalizar o confronto armado para onde deve ser transferido: para a arena de luta entre a polícia e a bandidagem, e você fora da linha de tiro (a não ser que queira ser um policial, evidentemente - ou um bandido, claro).

Há muitos outros argumentos. O simples fato de haver uma arma de fogo dentro de casa pode levar a uma cena trágica. Se você pensar que a maior parte das ações de homicídio são de origem patrimonial e que, exemplo, numa briga conjugal, essa questão está freqüentemente colocada (na separação, sempre) não é difícil imaginar o que pode acontecer quando um dos cônjuges encontra uma arma a seu alcance, no calor da situação. Nem precisa: os jornais trazem esses desfechos quase diariamente.

Outra coisa: quem garante que só os filhos dos outros é que descambam para a delinqüência? Dias desses um rapaz idiota da classe média do RJ praticou uma assalto a mão armada contra um taxista, ajudado por colegas. Onde ele conseguiu a arma? Teve que subir o morro para comprar uma? Não, só precisou de uma cadeira para pegá-la em cima do armário.

Mais uma, não menos importante: a liberação do comércio deveria então ser democrática, pois, só os mais ricos vão poder comprar armas. E os pobres? Eles teriam ainda mais direito, pois nos bairros pobres a polícia só aparece para reprimir e matar (nem sempre os bandidos, mas pessoas humildes e trabalhadoras). Policiamento que é bom, só nos bairros ricos. Então tinha que ter um Bolsa-pistola, alguma coisa assim, sei lá.

Outra: no mundo informatizado de hoje, há que se discutir a eficácia das armas de fogo diante dos aparelhos eletrônicos e dos modernos recursos de segurança. Um simples telefone celular, por exemplo, numa necessidade de socorro. Câmaras, sistemas de alarmes, gps, imobilizadores com descarga elétrica, sistema de identificação individual etc. A arma se torna cada dia mais obsoleta e muito mais perigosa diante de tantos recursos.

Mais uma: a visão egocentrista e antisocial que leva uma pessoa a apostar no uso da arma de fogo como autodefesa não a permite enxergar que os bandidos não dão em árvores, mas têm seus vínculos pessoais, como comparsas, irmãos, filhos.. e nem toda falta de razão impedirá de algum deles pleitear vingança contra a morte de um fascínora querido (ou o próprio fascínora, se ele conseguir escapar com vida de uma reação armada). E aí? Que tal ser um cabra marcado para morrer, mesmo com a posse de uma arma?

Interpreto a disposição das pessoas se armarem para se defenderem da violência da seguinte forma: essa atitude representa a desistência da luta por uma sociedade harmônica, a aceitação da violência como um fato consumado, por mais contraditório que possa parecer essa conclusão. Na minha opinião, os favoráveis à comercialização das armas estão implicitamente desistindo de procurar as origens dessa violência preferindo entrar numa dança esquisita de ritmo ditado por som de tiros. Entrando no meio do tiroteio, se preferirem. Querem armas. Porém, emprego, que é bom... É o emprego das armas em lugar da arma do emprego. Isso.

Bem, agora um historinha tudo a ver com o assunto.

AS ARMAS E OS ANTROPÓGAFOS PAPA-BRANCAS

Há muito tempo atrás, muito além daquela serra que azula no horizonte, onde vivia Iracema, a virgem dos lábios de mel, instalou-se uma colônia de cara-pálidas provenientes do Velho Mundo. Não muito longe dali, no meio das florestas infindáveis daquele país, existia uma ladeia de índios antropófagos, os Papa-brancas que, vez ou outra, faziam incursões no povoado dos cara-pálidas para comer mulher branca. No bom sentido do verbo devorar, não por causa da beleza daquelas mulheres, mas por causa da maciez de suas vísceras. Os índios Papa-brancas achavam as índias cara-pálidas realmente muito gostosas, literalmente.

Os brancos, não suportanto mais a perdas de suas mulheres, se reuniram para pôr fim àquela selvageria.

Decidiram que todo habitante daquela vila, fosse homem ou mulher, criança ou adulto, poderia dispor de uma arma de fogo a partir daquela data, como forma de defesa contra a devora de suas mulheres pelos índios Papa-brancas. A decisão foi tomada num referendo popular onde a consulta apresentada foi a seguinte: "Você é contra ou a favor de não poder dar um tiro num índígena que tentar comer sua esposa, sua irmã, sua cunhada, sua filha ou qualquer outra mulher da nossa aldeia?"

Cem por cento dos habitantes com direito a voto votaram na primeira opção e todos passaram a andar armados.

Tudo ia bem, até que um dia um jovem do vilarejo estava cuidando sozinho de uma plantação de berinjelas quando um silvícola comedor de mullher branca surgiu bem diante dele. O agricultor pensou em sacar de sua arma sem saber que aquele índio na sua frente estava ali apenas para distraí-lo para que outro índio, por trás, pudesse lhe decepar a cabeça com uma borduna enquanto ele tentasse pegar a arma. Os índios então embrulharam-no com folhas de bananeira para comer em casa, digo, na taba, pois eles também comiam homens brancos, apesar de gostarem mais das mulheres brancas. E levaram também a arma que o pobre coitado não conseguiu usar.

Tal cena foi se repetindo ao longo do tempo, de modo que, no final de um ano a aldeia estava cheia de ossos amarelos de homens brancos e cheia também de armas carregadas.

Numa linda tarde de sol, Bunda-pelada, um índio jovem e muito inteligente, que havia estudado na Escola de Artilharia do Exército da Corte, parou no meio da aldeia e, vendo aquele monte de armas ao lado da taba principal, teve uma idéia. Foi então falar com o cacique da tribo.

- Grande Cacique, chefe dos índios Papa-brancas, ouça o que tenho a dizer.

- Bunda-pelada pode falar.

- Grande Cacique, para facilitar nossa caça de mulher branca, poderíamos usar as própria próprias armas dos cara-pálidas, aquelas que estão do tabo da lada, digo, do lado da taba, em vez do tacape e da borduna, pois elas são mais mortais. Com nossa mira de guerreiros de arco e flexa e com os ensinamentos do que aprendi na corte de homem branco, cada tiro há de ser um tombo.

O cacique deu-lhe um tapa nas ventas e lhe respondeu:

- Índio Bunda-pelada idiota! Querer botar azeitona na nossa empada!

Kali.
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domingo, 9 de outubro de 2005

Burra gente brasileira

imagem: Maximus imagens 2

Nunca vi país pra dar tanta goiaba e gente burra como o Brasil, meu Deus!

Veja, por exemplo, o caso do escândalo da arbitragem do Campeonato Brasileiro (tudo bem que o futebol é uma área em que a jumentice impera em toda sua glória e por sua própria natureza, já que tudo ocorre em cima de um pasto marcado por linhas brancas, mas não se enganem: a coisa se aplica em todos os setores da vida nacional; e não estou falando do povo, que é esperto, mas dos dirigentes, justamente os cabeças pensantes, como esse Luiz Zveiter, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. "Superior" ...sei...).

Então. Anularam todos os 11 jogos que o juiz Edílson Ladrão Pereira de Carvalho apitou. Precisava? Claro que não! Aqueles que ele não conseguiu fazer o resultado, é claro que não deveriam ser anulados. No jogo entre Juventude e Figueirense, por exemplo, Edilson entrou para fazer o Juventude ganhar a partida. Só que o Figueirense enfiou 4 a 1 num time que jogava com 12, um deles com apito da boca. No caso do jogo do meu Fluminense contra o Brasiliense, a mesma coisa. O Flu, que era para perder, meteu 3 a 0. Então por que anular? O poder de um juiz intervir no resultado de uma partida é bastante limitado, especialmente quando um dos times entra arrasador. E os gastos para se fazer uma partida são muito grandes e nessa altura do campeonato muito desses jogos não vão ter mais o interesse que tinham, pois o campeão já está se definindo. Então esses caras deveriam adotar um critério. Não. Haja alfafa para toda essa turma. E os comentaristas esportivos não falam nada. Mas também! Vocês já viram coisa mais inútil do que comentarista esportivo, fora colunista social? Dancarina de axé music?

Então vão refazer todas as 11 partidas. Sabe quanto custa uma partida de futebol do Campeonato brasileiro, entre aluguel do Estádio, pagamento de deslocamento de jogadores, imprensa, piriri, pororô...? Não? O Ricardo Teixeira, presidente da CBF sabe. Ainda bem que o Brasil tem dinheiro de sobra pra essas coisas.

Pior é a Polícia Federal, que ouvia toda a trama da roubalheira através de escuta telefônica e só foi prender os bandidos depois que a coisa tinha se tornado pública, através da revista Veja. No caso do jogo do Vasco contra o Figueirense, por exemplo, foi gravada toda a conversa do juiz ladrão antes do jogo, em que ele ia explicando ao empresário apostador como iria fazer para o Vasco ganhar a partida, e mesmo assim deixaram o desgraçado apitar o jogo. E já era o sexto jogo que o meliante melava. Se deixassem por conta da Polícia Federal o cara só iria parar na Copa do Mundo, já que era árbitro da FIFA. Haja capim pra toda essa turma.

Mas isso não importa ("Então por que postou, Kali?"). O que importa é que daqui a pouco eu vou jogar bola na praia e não há juiz no mundo que faça o time adversário ganhar. Podem apostar no meu time.

Kali.
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quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Ré-postando

Acontece que há algum tempo atrás, mais precisamente em fevereiro de 2003, postei aqui várias imagens de uma campanha publicitária da Vodka Smirnoff. Não para fazer apologia à bebida, mas para mostrar a criatividade dos publicitários. Como aquelas imagens já se perderam nos servidores gratuitos da vida, e como este singelo blog conta com novos leitores que não são obrigados a ler todo o conteúdo do blog nem a ter paciência para isso, republico os dois posts, antes de colocar aqui minha opinião sobre o referendo do desarmamento. E aí será um novo post :). Por enquanto, fiquem com os velhos. Espero que gostem. De qualquer forma, é bom reverenciar os velhos, não é não? Claro que é.

VODKA NA CABEÇA (Quinta-feira, Fevereiro 13, 2003)

Sempre gostei daquelas propagandas da vodka Smirnoff, em que a imagem se transforma por detrás da garrafa sugerindo uma mudança de personalidade por causa da bebida. E que transformação! Da inocência à malícia, da ingenuidade à astúcia, do inofensivo ao pernicioso, do angelical ao profano, do pudico ao sedutor. Muito legal. Vocês já devem conhecer, mas trago aqui, só pra conferir. Tenho minha crítica em relação a uma ou outra, como a do tiro no pato. Mas não deixam de ter muita criatividade. Outra coisa: não estou fazendo propaganda nem da marca, nem da bebida, que às vezes beberico. Portanto, crianças, se forem beber, bebam com moderação, ok? :)

VODKA - PARTE FINAL (Sexta-feira, Fevereiro 14, 2003)

Ao contrário do que um anjo pensava, a "coleção" das imagens da Smirnoff não estava completa. Não sei se agora vai estar, mas, aproveitando que hoje é sexta, um dia bastante propício para essas coisas, trouxe mais das imagens da campanha publicidade da vodka Smirn... Caramba! Só agora que fui perceber que, em português, vodca se escreve vodca . Fazer o quê? apagar? Não dá. Já bebi ... :Þ

Todas são muito boas, mas a do jacaré, do tubarão no jogo de sinuca e a do sapato da mulher que vira zebra enquanto a da outra vira onça são impagáveis! Parabéns a esses artistas!

Kali.
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sábado, 1 de outubro de 2005

Uma moldura e um sorriso

Como eu disse, tenho a edição de A Gazeta na qual o infeliz do diagramador ou jornalista, sei lá, colocou um "vá se fuder" de todo o tamanho "achando" que eram caracteres chineses. Escaneei. Taí. É só clicar.


Pode ser um julgamento precipitado, mas em minha inocente opinião, fizeram de propósito. Por dois motivos. Primeiro, por que esse diagrama é muito conhecido na internet. Segundo, que é difícil você achar essa imagem sem a explicação sobre seu verdadeiro conteúdo. Fiz um teste no Google (digitando "vá se fuder") e o que apareceu (geralmente nos blogs) apareceu com texto explicativo. Mas o que interessa? Interessa que eu vou guardar de lembrança.

Falando em Google, claro que você sabe como utilizar um site de buscas para achar as páginas que têm o link de seu blog, né? Ah bom, pensava que não soubesse, desculpa. Não é digitar

link:www.endereço_do_meublog

na barra de buscas do buscador? Então! Eu sabia que você sabia. Talvez o que você não saiba é que o buscador


apresenta muito mais resultados do que o Google, e de forma muito mais organizada. Pelo menos foi o que aconteceu quando procurei os sites que linkaram o Blog Kálido. Pois é. Não me pergunte o porquê. "Por quê você não quer que pergunte o porquê, Kali?". Porque eu não procurei saber, ora. Senão eu falava. Com o maior prazer.

Não, não. Com prazer seria mais caro :Þ

Pois é. Não tem aquela foto doce do Sebastião Salgado de que eu falei no post Foto (quatro posts aí pra baixo) e que eu iria colocar numa moldura e pendurar na parede? (não precisa ir lá. Se quiser ver a foto clica aqui que ela aparece). Então. Quando eu cheguei na Loja Paganotto de Maruípe, acho que a atendente teve empatia comigo e respondeu assim, quando perguntei sobre o preço da moldura que eu ainda nem tinha escolhido:

- Mil reais!

Respondi com um sorriso, já pensando em retribuir a brincadeira.

No final, depois de eu ter escolhido a moldura e ela ter feito as medições do poster e calculado o preço, eu perguntei:

- Quanto é?

- 98 reais!

Sorri para ela e respondi:

- Puxa! Que descontão, hein!!! Obrigado!

Ela riu um riso solto. Estava quite com a gentileza. Só fiquei devendo o serviço da molduragem, que vou pagar quando ficar pronto.

Kali.
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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
Quiçá, mais bonito :Þ

Creative Commons License

Blog Kálido, escrito por kali, é licenciado sob as seguintes condições:
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textos: kali