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sábado, 31 de outubro de 2009

Se eu tivesse diploma de jornalista, fosse entrevistar uma professora da Uniban e lá me encontrasse com o Valmir.

 

Eu me dirigiria à Universidade Bandeirantes, procuraria a professora de Sociologia com quem teria marcado um horário para falar sobre a agressão à aluna do vestido curto, me mandariam aguardar numa sala de aula vazia e lá encontraria o Valmir limpando o chão.

Oi, Valmir! Tudo bem, meu amigo? Há quanto tempo! Bom te ver!
Oi, Kali! Você por aqui? Vou bem, e você? Jogando bola ainda?

Tudo certo. Batendo uma bolinha de vez em quando. Vim fazer uma entrevista com uma socióloga daqui da Uniban sobre o negócio da agressão à Geyse Arruda, a aluna do vestido curto.
Vê só, cara! Que coisa maluca, não! Mas acho que você não vai conseguir falar com essa mulher, não.

Por quê?
Acho que os donos não vão liberar. Eles não querem divulgação. Para eles, quanto menos se falar nisso, melhor. O que você vai perguntar para ela?

Vou pedir para ela falar sobre o que aconteceu. Tentar explicar a coisa.
Kali, não precisa entrevistar uma socióloga para saber porque aconteceu aquela zorra toda com a garota.

Ah, é? Então me explica, que até agora não entendi o que aconteceu. Por que toda aquela confusão por causa de um vestido curto?
Vai dizer que não sabe? Viadagem, meu camarda. Viadagem pura. Me diz uma coisa: um material daquele, um homem de verdade vai chamar de puta? Iria espantar a criança, não? Então. Eu conheço meu gado, camarada. Os rapazes dessa universidade, metade fornece o três-meia-zero e a outra não recusa. Dão com força!

Três-meia-zero?
É. É maneira de falar do fiofó. Um trem redondo não tem 360 graus? Fugiu da escola?

Tudo veado? Mas os caras são musculosos, não parece...
E você acha que aqueles músculos são para as mulheres? Aquilo é para agarrar macho, meu camarada, para não fugir de jeito nenhum.

Porra, Valmir, você fala umas coisas... você é muito preconceituoso. Se fossem donzelas, eles não usariam aquelas tatuagens de cabra macho?
Mas você não entende nada de sociologia! Aquilo é para identificar as bibas. Os grupos têm que ter identificação. Como é que um cara vai saber que o outro é veado? É aí que entra a tatuagem, meu camarada. Identificação. É signo que se chama aquilo. De vez em quanto eu passo pelo corredor e ouço o professor falar sobre isso.

A coisa não é assim. Às vezes o cara só quer aparecer, ficar bonito na foto, só isso. Tem gente que acha bonito pintar aquela merda na pele, ué! Aí põe a porra da tatuagem.
Põe a tatuagem, a porra vem depois. Vai por mim. Essas Cocas são tudo Fanta.

Você tá falando muita merda, Valmir. E as meninas? Porque chamariam a outra de puta gratuitamente?
Inveja. Aposto com você que a menina agredida tem a bunda mais redonda do que as outras. Sabe como é. Inveja mata. Vai ver que também tem um namorado bonitão. A mulherada fica para morrer com um troço desse, fica histérica. Outra coisa: a menina iria para uma festa depois da aula. Toda produzida. Nem toda menina tem grana para sair. Para entrar nessa universidade, tem que deixar tudo na entrada, no caixa. É inveja, só pode.

Não pode ser só isso.
Não, não é. Tem também esse negócio de evangélico, você sabe. Fundamentalismo. A igreja católica passou por isso tem uns quinhentos anos, já superou, mas agora tem o fanatismo evangélico. Isso tem a ver também.

Tá bom, Valmir. Acho que a professora não vem mesmo.
Não te falei? Conheço meu gado.

Valeu, meu irmão. Aquele abraço.
Falou, meu camaradinha. Falei demais, né? Você não usa tatuagem não, usa?

Sai fora!

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Kali.
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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O ano em que não houve Olimpíadas no planeta Guerra.

Além, muito além daquela estrela que azula no universo, nos cafundós dos céus, no quinto dos espaços siderais, havia um planeta que girava e se esquentava em torno de uma bolona de fogo. Esse planeta era chamado Guerra. Tinha esse nome porque seus habitantes viviam guerreando entre si.

Tanto brigavam que os habitantes dos planetas vizinhos falavam para eles, em guerrês: "Puxa vida! vocês vivem em guerra, hein!". E eles respondiam: "Vocês queriam que vivêssemos onde, mané? E vê se não torram a porra do saco!"

Apesar da eterna beligerância, a cada metade de oito anos havia uma trégua. Os jogos de guerra dava lugar à guerra dos jogos. Era o ano das Olimpíadas no planeta Guerra.

Havia os países ricos e os países pobres, e os jogos eram sempre feitos nos países ricos.

Até que um dia uma cidade chamada Riu, ex-capital de um país de segunda, foi a escolhida para sediar os Jogos Olímpicos daquele esquentado planeta. Embora conhecida como "Cidade Espetaculosa", a urbe era coberta de miséria e pobreza por todo lado, de cima a baixo, de fora a fora. Os morros, principalmente, eram tomados de pobres e favelas, como era conhecido o amontoado de barracos onde vivia a pobreza.

O povo todo, tanto os ricos como os pobres, incluindo os remediados, todo mundo ficou muito feliz com a escolha da cidade porque ela seria a primeira de um país mulambento a sediar os jogos em toda a história do planeta Guerra. Assim, foi todo mundo sambar no asfalto.

Acontece que o velho líder dos pobres reuniu o povo todo na praça e falou:

- Vejo que os pobres e ricos da nossa cidade e do nosso país estão muito felizes porque sediaremos os Jogos Olímpicos do ano de 200 milhões e dezesseis mil do Fim da Grande Paz do nosso planeta. Pois saibam todos que, como líder máximo do povo pobre, devo alertá-los de que tudo não passa de ludibriagem dos países ricos. No momento há uma grande crise econômica rondando nosso planeta, e por isso escolheram essa cidade que, dentre todas as que concorreram, era a menos preparada para os jogos, a que tinha mais por construir e aplicar o dinheiro parado das grandes empresas e fazer render mais dinheiro para continuarem as guerras depois, com maior intensidade. Todos sabem que não temos nenhuma tradição nesses jogos. Mesmo com 500 bilhões de habitantes, somos ultrapassados em número de medalhas de titânio por uma merreca de país como Bacu, que tem apenas três bilhões de almas lavadas. É uma medalhinha ou outra que ganhamos nas Olimpíadas, sem falar que em tais jogos nunca ganhamos uma de titânio no esporte que mais entendemos, o pé-na-bola. E toda a bagunça que vão fazer não vai mudar em nada a situação miserável em que vivemos, mas será uma gastança e roubalheira sem fim dos ricos e dos seus políticos. Portanto, como líder espiritual e político de todos vocês, saibam que acabo de decidir que não vou permitir que aconteçam nesta cidade os Jogos Olímpicos...

Um rapazote interrompeu o velho líder:

- Tá doido, véi? Não dá para voltar atrás. As Olímpíada já é!

O velho respondeu:

- Ainda não, moleque. Eles dependem de nós para construir cada palmo de pista e cada assento de arquibancada. E não vamos fazer. Assim eu decidi e assim será cumprido. Para o caso de fazer valer minha decisão, tenho o apoio do meu braço armado, o chefe da milícia comunitária, o comandante Trafy Kant.

- Carái!, disse o rapaz.

O morador K. Brito ponderou:

- Senhor! Eles nos atacarão com caças!

Com toda sua experiência, temperança e astúcia, o ancião respondeu:

- Não se preocupe, meu bom homem. Águias não caçam insetos.

Um outro rapazote protestou:

Pô, véi! Quer dizer que não vamos ver a gostosona da Balalaika no salto com vara?

O velho, com paciência e ponderação, falou pausadamente:

- Pega a vara do salto e enfia no cu, meu jovem.

E assim ficou determinado. Depois de comunicar a decisão ao seu povo, o velho líder escolheu uma criança do sexo masculino como emissário para comunicar a decisão ao prefeito e ao chefe do Comitê Olímpico Nacional.

O garoto dirigiu-se ao Palácio dos Podres Poderes onde se encontravam aquelas autoridades e repassou a decisão do líder dos pobres.

O prefeito voltou-se para o menino:

- E pode me dizer onde faremos os Jogos Olímpicos, criatura?

O menino respondeu:

- Ele disse que é para fazer na casa do caralho!

Naquele ano não houve paz nem Jogos Olímpicos no planeta Guerra. A guerra continuou e ninguém nem reparou. E a cidade chamada Riu nem chorou.

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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
Quiçá, mais bonito :Þ

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